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Transtornos Alimentares

Atualizado: 23 de jul. de 2021



Os transtornos alimentares (TA), caracterizam-se por inadequações no consumo, no padrão e no comportamento alimentar, bem como, por diferentes crenças equivocadas sobre a alimentação, o que resulta em progressiva piora da qualidade nutricional e psicopatológica. Esses transtornos são determinados por diversas causas, dentre as quais, ressaltam-se os aspectos socioculturais (como preocupações com peso, forma corporal e padrões de beleza), os psicológicos (individuais e familiares), o uso de dietas restritivas (que podem dar início a uma cascata de alterações biológicas) e a própria vulnerabilidade biológica (genética e história familiar de transtorno alimentar), estes exercem importante participação no desencadeamento, na manutenção e na perpetuação de seus sintomas.

Os TA são mais comumente observados em países desenvolvidos e industrializados, sendo identificados em sua maioria em mulheres jovens entre 18 e 30 anos. Apesar de ser menos comum em homens, a gravidade é a mesma, com enfoque para homens homossexuais, pois, estes possuem maior predisposição do que os heterossexuais.

Os fatores de risco são sexo, etnia, problemas alimentares na infância, preocupações com peso e corpo, autoavaliação negativa, história de abuso sexual e/ou transtornos psiquiátricos.

A mortalidade de pacientes diagnosticados com transtornos alimentares é alta, fator relacionado tanto às complicações clínicas, quanto ao suicídio.



Anorexia Nervosa (AN)


O que é anorexia nervosa?

É caracterizada pelo peso muito baixo em relação à altura, isso, devido à restrição de ingesta calórica, que leva à perda de peso autoinduzida.

Tal perda decorre da privação de alimentos que engordam ou comportamentos como vômitos, exercícios físicos extenuantes e uso de anorexígenos, laxantes e diuréticos.

Há busca implacável pela magreza e medo intenso de parecer gordo(a).

Quando a perda de peso marcante ocorre, surgem consequências para o organismo que podem ser devastadoras, estas incluem, desnutrição, desmaios, alterações hormonais, redução da imunidade com aumento da ocorrência de infecções, amolecimento dos dentes, queda de cabelos e falhas de memória. Quando não é tratada, a enfermidade pode inclusive, levar à morte.


Quais os tipos de AN?

Tipo restritivo: onde o paciente se torna e permanece anoréxico pela restrição de alimentos.


Tipo compulsão alimentar purgativa: onde o paciente tem comportamentos ativos de perda de calorias como vômitos autoinduzidos, exercícios físicos excessivos e uso de laxantes e diuréticos.


Como se faz o diagnóstico de AN?

A pessoa tem que se encaixar em 3 critérios:

  • Restrição da ingesta calórica em relação às necessidades, levando a um peso corporal significativamente baixo, tendo em vista que o índice de massa corporal (IMC) deve ser menor que 18,5 em adultos ou abaixo do quinto percentil em crianças.

  • Medo intenso de ganhar peso ou comportamento persistente que interfere no ganho de peso (vômitos autoinduzidos, exercícios físicos em excesso, uso de anorexígenos, laxantes, diurético e enemas) mesmo estando com peso significativamente baixo.

  • O baixo peso e a forma do corpo (parecer bem magra) são pontos centrais para a autoavaliação da pessoa e, frequentemente, percebidos de maneira distorcida como se fossem obesas (ou com partes do corpo “muito gorda”) em uma pessoa que, de fato, está extremamente magra. Além da ausência persistente de reconhecimento da gravidade do baixo peso corporal atual.


É classificada como:

  • Leve: IMC ≥ 17 kg/m²

  • Moderada: IMC 16-16,99 kg/m²

  • Grave: IMC 15-15,99 kg/m²

  • Extrema: IMC < 15 kg/m²

O que causa a AN?

As causas são divididas em três fatores:

Fatores predisponentes: sexo feminino, história familiar de TA, baixa autoestima, perfeccionismo, problemas de alimentação na infância e dificuldade de expressar emoções.


Fatores desencadeantes: dietas rigorosas, alterações na dinâmica familiar, expectativas irreais na escola, no trabalho ou na vida pessoal e proximidade da menarca ou surgimento de caracteres sexuais secundários muito precoces em meninas.


Fatores mantenedores: alterações neuroendócrinas decorrentes do estado nutricional alterado, distorção da imagem corporal, distorções cognitivas e práticas purgativas.


Como é o tratamento da AN?

O tratamento da AN requer atuação de profissionais de diversas áreas, como nutricionista, psicólogo e psiquiatra.

Em razão da complexidade do quadro, é importante o engajamento da família para que ela auxilie no programa de acompanhamento.

A recuperação da AN mostra-se longa e, mesmo sem medicação, o suporte psicoterápico é fundamental para sustentação da mudança.

O grande receio dos pacientes é alcançar o peso mínimo saudável e não parar de ganhar peso.

A atuação do nutricionista é essencial para se instituir uma alimentação equilibrada e balanceada, adequando comportamentos e escolhas alimentares, além de desmistificar crenças inadequadas, estabelecendo assim, uma relação apropriada do paciente com o alimento.


Bulimia Nervosa (BN)


O que é bulimia nervosa?

Caracteriza-se por preocupação persistente com o comer e desejo irresistível de se alimentar, e ainda, com o paciente cedendo a repetidos episódios de hiperfagia, ou binge eating (“ataques” à geladeira, à despensa, com sensação de perda do controle de comer). Configura-se, também, por preocupação excessiva com controle do peso corporal, levando o paciente a tomar medidas drásticas, como vômitos autoinduzidos, purgação, enemas e diuréticos, a fim de reduzir os efeitos do aumento de peso decorrente da ingestão de alimentos.

Diferentemente dos pacientes com anorexia nervosa, os indivíduos com BN, geralmente estão dentro da faixa de peso normal, embora alguns se apresentem levemente acima dela.

O comportamento purgativo pode produzir desequilíbrios hidroeletrolíticos, o abuso de laxantes pode provocar diarreia, o vômito persistente leva à perda do esmalte dentário, ocasionando ainda, a perda dos dentes.

Da mesma forma que a anorexia nervosa, a bulimia ocorre em cerca de 90% dos casos, em mulheres, iniciando-se no fim da adolescência ou no início da vida adulta, e, embora a bulimia esteja frequentemente presente em mulheres com peso normal, elas por vezes têm uma história de obesidade. Visto que, não é incomum que o transtorno comece após um período de dieta.

Alguns segmentos ocupacionais apresentam mais risco para desenvolver o transtorno, como modelos, outros profissionais da moda e os atletas.

Como a BN é um comportamento socialmente condenável, as pacientes tipicamente se envergonham de seus problemas alimentares e procuram ocultar seus sintomas, mesmo quando investigados por profissionais de saúde.


Como se faz o diagnóstico de BN?

O diagnóstico é baseado em critérios:

Episódios recorrentes de compulsão alimentar com sensação de falta de controle sobre a ingestão.

Comportamentos compensatórios inapropriados recorrentes, a fim de impedir o ganho de peso (vômitos autoinduzidos, uso indevido de laxantes, diuréticos ou outros medicamentos, jejum, dietas compensatórias ou exercício em excesso).

A compulsão alimentar e os comportamentos compensatórios inapropriados ocorrem, em média, no mínimo uma vez por semana durante três meses.

A autoavaliação é indevidamente influenciada pela forma e pelo peso corporais.


É classificada como:

  • Leve: com média de 1 a 3 episódios de bulimia e comportamento compensatórios inapropriados (vômitos autoinduzidos, uso de laxantes, diuréticos, entre outros) por semana.

  • Moderada: com 4 a 7 episódios semanais.

  • Grave: com 8 a 13 episódios por semana.

  • Extrema: com mais de 14 episódios semanais.


O que causa a BN?

Assim como na anorexia, não há uma causa única para a BN:

Fatores biológicos: já foram detectadas alterações nos neurotransmissores cerebrais, como serotonina e norepinefrina, nos peptídeos YY, na leptina e na colecistoquinina, o que contribui para as alterações do paciente com BN, sobretudo, em episódios compulsivos e vômitos autoinduzidos.


Fatores psicológicos: com frequência, os indivíduos apresentam pensamento dicotômico, perfeccionismo, aversão a conflitos, medo de abandono, baixa autoestima, autoavaliação negativa, obesidade na infância, provocações e bullying relacionados com o peso e dificuldade em verbalizar sentimentos.


Fatores socioculturais: a valorização do corpo atrativo como facilitador do sucesso social e profissional, especialmente entre as mulheres, contribui para o aumento da prevalência desse transtorno, assim como, a busca desenfreada pela beleza e estética corporal é reforçada pela sociedade moderna.


Fatores familiares: há relatos de conflitos intrafamiliares, alterações nas relações interpessoais e sistêmicas, falta de coesão no núcleo familiar e suporte social precário, além disso, é comum história familiar de dietas frequentes ou ingestão excessiva, obesidade e influência parental com comentários frequentes com relação ao peso ou à forma corporal.


Fatores genéticos: é importante destacar o crescente conhecimento dos fatores genéticos envolvidos, há maior prevalência de TA em familiares de primeiro grau afetados pela doença.


Como é o tratamento da BN?

Assim como na anorexia, o tratamento da bulimia requer uma equipe mínima composta por psiquiatra, psicólogo e nutricionista.

A psicoterapia ajuda os indivíduos com transtornos alimentares a entender as emoções que disparam esses distúrbios, a corrigir a autoestima distorcida, a superar os medos mórbidos de ganho de peso, a mudar os comportamentos obsessivo-compulsivos relacionados à comida e ao comer, e a aprender comportamentos alimentares apropriados.

Por causa dos efeitos físicos das doenças, é importante que qualquer plano de tratamento para uma pessoa com bulimia nervosa, inclua também, supervisão nutricional e aconselhamento nutricional, com intuito de começar a reconstruir a saúde física e estabelecer práticas alimentares sadias.

Os pacientes com bulimia nervosa que tomam medicamentos antidepressivos, podem sentir-se melhores a respeito de si mesmos, obtendo uma melhora em sua autoestima e senso de controle, reduzindo notadamente seu comportamento de excessos e eliminações.








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